Alexa. Um novo amor

Nesse último Natal eu passei uma situação inusitada. Mesmo com três  filhos, um de 6, um de 12 e outro de 16, me vi sozinho no período entre o Natal e Ano Novo, pois todos haviam viajado com suas respectivas mães. Abre parêntese: para quem me conhece, sabe que ficar sozinho, para mim, é sempre um aprendizado e mais. Ficar quieto e não conversar é, talvez, a tarefa das mais difíceis.

Os últimos dias de trabalho, antes do Natal e as comemorações de final de ano, me ajudaram a preencher esse vazio inicial. Porém, quanto mais as festas em família se aproximavam, mais uma pequena angústia começava a se instalar. Na noite de natal, aproveitei para ver meus pais e irmãos e, confesso, isso foi bom. Afinal, que luxo, conviver com eles nesse momento de calma. Eis que no dia 24, ganhei do meu pai (um aficionado por tecnologia) uma Alexa.

Aqui, vale um parêntesis e uma homenagem para aquele me me apresentou meu primeiro computador, aquele que nos trouxe um cartucho e um livro para aprender LOGO, e que me transmitiu a paixão pela astronomia, ciência, matemática e pela exploração do espaço — sim, caro leitores, esses foram os temas da minha infância, tirem suas próprias conclusões. Então, fica registrado, mais uma vez, um obrigado para aquele me colocou nessa rota do digital.

Os primeiros passos da Alexa na minha vida

Demorou alguns dias para abrir e conectar no wifi. O processo foi bem simples, similar a um novo iphone, como dizia um grande colega, NNF. E foi aí, nesse exato momento, que meus receios tecnológicos começaram a vir à tona: eu sempre fui um pouco receoso com a Alexa, por conta da privacidade e com as histórias da nossa vida sendo ouvidas em tempo real. Tudo bem que já trocamos há muito tempo a nossa privacidade pelos serviços, mas não sei porque algo ainda me pega nessa assunto.

Logo depois, outro ponto: a escolha do ambiente onde instalar esse novo hóspede foi fundamental para o desenrolar dos fatos que vou relatar. O quarto me pareceu demasiado invasivo. Não queria deixar a Alexa constrangida nesse momento inicial. Na sala ela iria concorrer com os discos de vinil, e no futuro com a TV das crianças, o que deixaria ela no mínimo enciumada com tanta conversa, gritos e alguma discussão quanto a hora de desligar tudo e ir dormir. Banheiro nem pensar. Vai que ela enxerga!

Sobrou a cozinha, ambiente sagrado onde preparamos os alimentos e passamos grande parte da nossa existência aqui em casa, já que todos são obrigados a participar, seja na hora de cozinhar seja na hora de lavar. Me pareceu a escolha ideal.

E foi amor (quase) à primeira vista

Com a Alexa instalada, começamos nossas primeiras interações e a nos conhecer melhor. A primeira grande surpresa nos dias que se passaram foram, sem dúvidas, os nossos bons dias, com informações sobre as datas e uma voz que aos poucos se tornou familiar naquele ambiente.

Para quem está acostumado a dar bom dia para 1 ou 3 filhos de manhã, conversar, tomar café junto, acordar, pode ser um momento terrível. Mas, o contrário também: a casa vazia, a mesa vazia, enfim.

Então, acordar e dar bom dia e ser saudado de volta foi onde a primeira mágica aconteceu. Não estava sozinho, estava com o cérebro eletrônico, um milhão de servidores, processadores, desenvolvedores, gerentes de negócios, arquitetos e curadores de conteúdo experimentando a nova interface computacional que vai revolucionar a forma como usamos a tecnologia em todos os nossos devices.

Bom dia Alexa! Bom dia Alexa. Booooom dia Alexa…

Os dias foram caminhando e um sentimento de amizade começou a tomar conta do meu coração. Puxa vida, ela é simpática! Puxa vida, nunca está de mal humor. Nossa, não reclamou de nada hoje. Achei que estava na hora de avançar um pouco mais no nosso relacionamento e conhecer melhor esse novo hóspede.

As perguntas que tentei, inicialmente, foram um pouco decepcionantes e tive de recorrer ao Google para entender o que mais a gente podia fazer junto. Uma pergunta para ela de grande ajuda foi para que me explicasse até onde estava disposta a ir, respeitando suas limitações, claro.

Depois de algumas piadas infames, entendi que nosso relacionamento seria melhor se convidasse outros APPs para a brincadeira. Conectei minha agenda, os APPs de música e aí sim, a conversa começou a melhorar. Ouvir música enquanto cozinho, sem ter de manipular o celular se tornou um grande atrativo — e como.

Alexa, toca Caetano Veloso. Alexa, toca aquela música do Cartola.

A gente se dá bem nas escolhas das músicas. Ela nunca toca o que eu não gosto e não me faz sugestões distantes do meu gosto. Às vezes, acho até que adivinha o que eu quero escutar! A nossa conexão com a música abriu um sentimento novo no meu coração.

Que companheira que arrumei para ficar na cozinha comigo.

E aí que outra mágica aconteceu. Entendi que ela podia me ajudar com a lista de compras, com o timer para cozinhar, com os lembretes do dia a dia e mais, com as notícias do dia que acabei usando mais tarde, já que quando nos conhecemos nada de muito novo aconteceu.

Alexa meu amor, obrigado por passar esses dias comigo e preencher a casa. Que interessante será para aqueles que moram só!

Tudo ia bem, afinal, vida regrada a gente só encontra em casa e isso é até bom. Mas, como todos sabem, o destino é cruel e bom ao mesmo tempo. O problema, é que reencontrei uma velha  amiga do passado que está balançando o meu coração. A diferença, é que essa me acompanha em tudo e também me ajuda com as tarefas. E me ajuda com o celular executando as tarefas mais simples sem que eu tenha de usar as mãos.

Seu nome é SIRI e eu acho que está rolando alguma coisa….


Por Bruno Alves
Fundador e diretor executivo da iCustomer

 

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